Ant? Villar Ponte
Entrevista a Ant? Villar Ponte publicada no Di?io de Lisboa,
o 10 de Xullo de 1933.
A GALIZA PRECISA DO APOIO DE PORTUGAL
(Do nosso correspondente particular)
MADRID, Julho - Dentro de pouco vai realizar-se o plebiscito galego,
para a implanta?o da autonomia. Toda a Galiza vibra, num afan de
propaganda, para reunir os dois ter?s do elitorado necess?io para que
nas Corte se possa apresentar o Estatuto.
Este era, pois, o momento indicado para recolhermos as impress?s de
Villar Ponte, a grande figura do nacionalismo galaico e o homem que mais
tem trabalhado pela aproxima?o de Portugal e Galiza.
Villar Ponte, categorizada figura das letras e at?h?pouco tempo chefe
da minoria parlamentar galega diz-nos:
- Precisamente agora, o meu pa? -poderia dizer a minha p?ria natural-
atravessa um momento cr?ico. Ou a Galiza empreende o caminho da
reden?o, conquistando a autonomia, ou ficar?para sempre agrilhoada ?
desdita de ser uma col?ia espanhola, como ?desde o s?ulo XV.
?A Rep?lica n? nos tratou melhor do que a Monarquia. Com o seu advento
ganhamos unicamente a possibilidade de ser aut?omos, dentro da
Constitui?o. Isto j??alguma coisa, mas mais que ao regime o devemos a
Catalunha, porque foi ela que introduziu na Constitui?o esse princ?io
descentralizador?
E acrescenta, com um gesto desiludido:
- A Galiza n? preocupa os espanh?s. O centralismo feroz iniciado pelos
reis cat?icos castrou as veleidades de independ?cia, arrancando-nos
at?o idioma. Submeteu-nos ?tutela de estranhos. Eles vieram a realizar
a ?barbara doma? de que fala Zurita, como castigo ?nossa rebeldia
contra a aristocracia e a teocracia.
?Por isso Pardo de Cela, capitaneando as suas mesnadas e de acordo com
os portugueses, procurou elevar D. Juana ao trono que usurpara
Isabel-a-cat?ica. Pardo de Cela pagou com a vida a sua temeridade e a
Galiza, separada ent? de Portugal, passou a ser a eterna col?ia
desprezada e violentada por Castela. Assim principiou a apagar-se a vida
pr?ria de Galiza?
Como o nosso entrevistado ?o propulsor da publica?o dum dicion?io
galaico-portugu?, perguntamos-lhe:
-Parece-lhe poss?el a unifica?o dos nossos idiomas?
- O galego, respondeu-nos, foi at?o s?ulo XV id?tico ao portugu?. Os
cancioneiros demonstram-no claramente. Pontevedra e Lisboa foram os dois
centros mais importantes de estudos geogr?icos at?o momento das
Descobertas. A linguagem dos “Lus?das” pelo seu l?ico, ?mais parecida
com o galego de hoje, que n? com o portugu? moderno.
?Com raz? afirmou Te?ilo Braga que a Galiza era a prov?cia mais
duramente submetida, que melhor conservava a sua pureza ?nica, pela
for? da sua tradi?o.
- Em outubro j?poder? ter a autonomia e, portanto, resolvido o
problema, coment?os.
E o senhor Villar Ponte diz-nos:
- A autonomia ?o princ?io dum vasto trabalho de emancipa?o para o
qual temos de contar com a compreens? da Espanha e o apoio de Portugal.
- Como?- interrogamos.
- Para levantar o nosso idioma, para que um dia chegue a unificar-se com
o portugu?, a Universidade de Santiago criou um instituto de Estudos
Portugueses, que tem j?publicado um not?el ensaio de Fidelino de
Figueiredo e uma selec?o dos ?Sonetos? de Antero de Quental. As
Irmandades da Fala est? ultimando um vocabul?io castelhano-galego, por
onde se v?que n? existe voc?ulo nitidamente portugu? que n? seja
tamb? galego.
?Exceptuando alguns ruralismos pela nossa parte e galicismos, por parte
dos portugueses, a l?gua ?comum, se bem que a fon?ica e ortografia
difiram algumas vezes. Agora, respondendo a sua interrogativa, direi que
para conveni?cia de todos devia organizar-se um congresso lingu?tico
de Portugal, Brasil e Galiza, ao qual concorressem representantes
autorizados para resolver a cria?o dum organismo que vele pela pureza
da l?gua e pela sua unifica?o. A nossa l?gua, que tem em todas as
partes n?leos vivos, ?umha esp?ie de soberba ponte com um pilar na
Am?ica e outro na Europa, atrav? da qual transita a cultura ib?ica.
?O Brasil e o Canad?s? os dois pa?es de mais largas possibilidades
econ?icas no futuro e, por isso o portugu? n? ?umha l?gua amea?da
de morte, antes pelo contr?io, tende a ampliar-se.
- A sua ideia, dissemos, parece-nos digna de ser recolhida pelos
fil?ogos lusitanos, pois tudo indica as vantagens que da?podem advir.
Villar Ponte, com entusiasmo, insiste:
- O nosso idioma unificado poderia adquirir not?el desenvolvimento e ?
bom ter presente que at?onde chegue a nossa l?gua, chegar?a nossa
p?ria.
A terminar perguntamos:
- A Galiza n? reivindicou o direito a ser considerada como uma minoria
?nica na Sociedade das Na?es?
- Sim, j?o conseguimos, assim como a Catalunha. Queremos recuperar a
nossa personalidade, terminando com o Regime de vexame em que vivemos,
esmagados por impostos, descurados dos poderes p?licos.
?Agora mesmo, o tratado com o Uruguay vem arruinar o pouco que existia
s? em mat?ia econ?ica na agricultura galega.
Numa afirma?o veemente, o chefe da Orga declara:
- Mais que dum Maci? precisamos dum De Valera, para que a Galiza possa
ser um Estado livre. O arco da vontade da juventude galega est?
esticado, pronto a atirar a flecha num futuro mediato ou imediato. Resta
que os portugueses meditem sobre os s?ios problemas que apenas esbo?
nesta entrevista.
NOTA : Esta
entrevista a Ant? Villar Ponte foi publicada no Di?io de Lisboa, o 10
de Xullo de 1933, e apareceu non hai moito acompa?ndo un artigo de E.
V?quez Sousa titulado Unha entrevista reveladora: Ant? Villar Ponte,
na prensa lisboeta, Xullo de 1933 reproducida o texto orixinal, e
grazas a el@s (e a E. V?quez Sousa que rescatou a dita entrevista) a
podemos incluir no noso site.
Fonte: La questione della lingua